Missionária Débora Moreira chega aos 86 anos esbanjando simpatia e alegria

Com muita saúde, inteligência e uma simpatia de dar inveja a muitos políticos, ela é uma daquelas mulheres que encantam não só pelas ideias, mas pela paixão com que fala. Estamos falando de Dona Débora Moreira, que chegou aos 88 anos de vida neste sábado (29). Débora Gomes Moreira nasceu em Cabedelo, no dia 29 de outubro de 1923 na antiga Rua da Aurora, hoje pastor José Alves de Oliveira, de fronte ao atual estacionamento do Teatro Santa Catarina. Neste sábado (29), seus amigos aproveitaram para lhe aplaudir, merecidamente, pela passagem dos seus oitenta e oito anos de vida. Ela é a nossa entrevistada do “Por Onde Anda Você”.
Filha do estivador e líder sindical Arthur Gomes Moreira e Dona Celina Gomes Moreira, teve quatro irmãos, na seguinte ordem cronológica: Elias Gomes Moreira, Levi Gomes Moreira, Ubiratan Gomes Moreira, a professora Mirian Moreira Silva e Eliseu Gomes Moreira.
Débora Moreira estudou as primeiras letras na escola da Colônia dos Pescadores e na escola feminina do sindicato. Dona Débora conta que na época, Cabedelo possuía apenas duas escolas, uma do Sindicato dos Estivadores e outra da Colônia dos Pescadores. O sindicato dos estivadores tinha duas escolas, uma feminina e outra masculina. Depois, já adulta, foi fazer o ginásio na Escola Imaculada Conceição, comandada na época pelo Padre Alfredo Barbosa. Na época, a escola do sindicato funcionava ao lado de onde hoje é a agência dos Correios e Telégrafos, e tinha como professoras Dona Hilda Avelar e Dona Argentina Vital, responsáveis pela educação das jovens moças de Cabedelo.
Descontraída e sempre gentil e sorridente, Dona Débora estudou no Instituto Bíbllico do Betel Brasileiro,onde passou quatro anos estudando em regime de internato para Missionária. Chegou a trabalhar na cidade de Fortaleza, porém, ao retornar à Cabedelo, se inscreveu a uma vaga de secretária no Sindicato dos Estivadores de Cabedelo e lá permaneceu até aposentar-se.
Antenada com tudo  o que acontece na atualidade, Dona Débora Moreira se mostrou preocupada com a decadência da juventude e lembra que na época da sua mocidade, a igreja, seja ela católica ou evangélica, era muito respeitada e visitada pela juventude. “Tanto a igreja católica como as igrejas evangélicas eram cheias, os jovens freqüentavam os catecismos, as programações religiosas evangélicas, cada um seguindo sua fé influenciados pelos pais, o que nos dias de hoje não vemos mais e isso interfere drasticamente no comportamento da nossa juventude atual”, disse. “A religião é muito importante na formação moral e espiritual de um povo. Os pais liam a bíblia para os filhos e os estimulavam a irem o igreja, o que deixou de acontecer nos dias de hoje e parte do que vemos hoje de ruim na sociedade, eu atribuo a esta distância de Deus e da debilidade de educação religiosa dos pais”, desabafou.
“Na minha época, não existia muito diálogo não, era na base da surra. Hoje a cultura da surra como forma de disciplina foi, em parte banida da sociedade e eu tenho minhas dúvidas se isso foi positivo ou negativo ao analisar o comportamento dos jovens de hoje”, argumentou.
Dona Débora chega aos oitenta e seis anos completamente cônscia e antenada coma realidade. Ao perguntarmos: Quem é Débora Moreira, respondeu: “Sou, acima de tudo, uma pessoa muito realista, não sou de ficar presa em utopias e ilusões. Sou direta ao assunto e vivo enxergando a realidade”, disparou.
Passamos algumas horas dialogando com Dona Débora e poderíamos passar outras mais pelo saudável diálogo que ela proporciona. Pudemos ver em seus olhinhos octogenários, um brilho a mais ao ser entrevistada. Várias vezes repetia sorrindo, que em todos os seus anos de vida, nunca havia sido entrevistada, apesar de já ter entrevistado muitas pessoas nas programações eclesiásticas. “Estou até tímida, jamais esperei um dia ser entrevistada”, revelou. Outra coisa que deixou escapar, é que sente saudade do trabalho. “Ainda hoje sinto falta de meu trabalho no sindicato”, deixou escapar.
Firme em suas decisões e sincera nas palavras, ainda dar lições de vida e sabedoria ao revelar que há mais sinceridade nas pessoas humildes.
Apesar de ser extremamente meiga e educada, nunca foi de levar desaforos para casa. Lembra que em certa ocasião, quando jovem estudante na Escola imaculada Conceição, o padre Alfredo começou a levar uns jornais da igreja para a escola. “Cada aluno recebia dez jornais e tinha que levar o dinheiro na semana seguinte, quer vendesse ou não”, conta. Dona de uma memória invejável, Débora ainda lembra da ordem de chamada da agenda escolar: “Na hora da chamada padre Alfredo sempre começava pela ordem alfabética que era Antonio Otávio, Amanda Bezerra, Clara Selma e eu era a quarta. Neste dia, padre Alfredo começou chamando meu nome e perguntou:
- Você trouxe o dinheiro dos jornais?
- Não, respondi, esqueci padre.
- Você é muito atrevida menina, respondeu o padre em tom de seriedade.
- Não senhor, não estou sendo atrevida, apenas disse que havia esquecido de trazer o dinheiro.
- Vou tirar você da escola por causa do seu atrevimento menina. Disse-me mais chateado ainda. Foi quando levantei o dedo para ele e em voz alta respondi-lhe: Pode me tirar da escola, porque vim para a escola para aprender e não para ser gazeteira. Confesso que ele não gostou, mas aí eu já tinha falado”, contou Dona Débora.
Anos mais tarde, já doente e com as pernas amputadas, fui visitar-lhe e ele contou para os presentes uma parábola bíblica chamada “O Bom Samaritano”, insinuando ao mesmo tempo que quem deveria visitar-lhe não i9a, porém, eu, que por ser evangélica vez por outra discordava dele, estava ali, lhe fazendo uma visita.
Durante a entrevista, foram incontáveis as vezes que fizemos uma pausa. Ora por causa as constantes ligações telefônicas de congratulações, ora recebendo visitas que iam até sua residência deixar-lhe um abraço, como as que flagramos nas fotos.
Quando já estávamos nos despedindo, Dona Débora fez questão que experimentássemos um delicioso bolo, feito por ela mesma, juntamente com outros amigos dela (foto), coisa difícil de resistir. O que senti, apesar dela não ter revelado nem pelo pouco que a conheço jamais o fazer, foi uma pontinha de decepção por não ter, ainda, recebido merecidas homenagens por seus relevantes serviços prestados à Cabedelo. Ao sair, embora já tivesse concluído a entrevista, me revelou uma pontinha de tristeza em ter visto tamanho trabalho sindical do seu patriarca, Arthur Gomes Moreira em prol da melhoria nas condições de trabalho dos estivadores de Cabedelo, sem ter recebido as homenagens que merecia, apenas ter dado seu nome a uma pequena rua da  cidade.
Fiquei pensando como concluiria esta entrevista e percebi, que não poderia finalizar com outras palavras senão pegando emprestado um poema de Mário Quintana, chamado Desabafo, ei-lo então:
Um dia descobrimos que beijar uma pessoa pra esquecer outra, é bobagem.
Você não só esquece a outra pessoa, como pensa muito mais nela…
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável…
Um dia descobrimos que as maiores provas de amor são as mais simples…
Um dia percebemos que o comum não nos atrai…
Um dia saberemos que ser classificado como o “bonzinho”, não é bom…
Um dia descobrimos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você…
Um dia saberemos a importância da frase:
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas…”
Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém mais não damos valor a isso…
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais…
Enfim…. um dia descobrimos que apesar de vivermos quase 100 anos, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo o que tem de ser dito…
O jeito é: ou nos conformarmos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutarmos  para realizar todas as nossas loucuras…
Quem nunca compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
Atualmente, Débora Moreira reside à Rua Juarez Távora, de fronte da Associação Frei Gregório. Quem puder lhe fazer uma visita, não vai se arrepender de ouvir suas sábias palavras. Felicidades Débora Moreira, com meus apelos que os parlamentares possam lhe homenagear como exemplo de evangélica, educadora, missionária e cidadã.

Galeria de fotos do encontro de amigos que foram parabenizar Dona Débora

































Jornalista Wellington Costa com Dona Débora Moreira








Nélia e Débora Moreira, a aniversariante







Momento dos aplausos para Débora, exemplo de vida e cidadania















%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Novo quadro do Soltando O Verbo resgata memória de importantes cidadãos cabedelenses

O Soltando O Verbo está estreando seu novo quadro: “Por Onde Anda Você?”.
Trata-se de uma forma de resgatarmos a memória de muitas pessoas que fizeram e fazem a história de Cabedelo nos mais diversos seguimentos: religião, artes, educação, política, etc. São pessoas que por algum motivo, estão longe dos olofotes da sociedade e, talvez, nem sejam conhecidos dos nosos jovens.
Para abrirmos esta série, iniciamos com chave de ouro com a educadora Ana Maria Costa da Silva, alguém lembra dela?
Introvertida e retraída, a professora Ana Maria Costa da Silva vive, talvez, os dias mais tristes da sua vida.  Com sua saúde comprometida e impedida por dificuldades na visão, ainda convive com o drama de estar fisicamente privada de fazer o que mais lhe dar prazer: ler.
Mãe de três lindas filhas, Geisiana, Gesivana e Gerlane, todas envolvidas com o magistério, vocação herdada da mãe, vive de forma modesta, carente de boas conversas, das amizades e sentido profundamente a falta da visita dos amigos.
Com semblante visivelmente triste, a professora Ana Maria esforça-se para não transparecer sua melancolia porém, para quem lhe conhece de perto, sente falta daquela professora falante, animada e sempre com uma idéia para enriquecer o diálogo.
Suas idéias futurísticas, suas sugestões inteligentes e sua maneira culta de se expressar ainda permanecem, mas, falta-lhe aquela expressividade e alegria inerentes aquela professora inesquecível para qualquer aluno portador do mínimo senso de dedicação.
Durante cerca de duas horas e meia, o jornalista Wellington Costa conversou com Ana Maria sobre diversos temas que vão desde a sua vida pessoal até a sua visão da atualidade educacional.
“Me sinto muito isolada e sinto falta da visita dos amigos”
Ana Maria nos revelou que sente saudades dos amigos e de boas conversas e sente-se esquecida e sofrendo de vários problemas de saúde.
A trajetória de uma heroína da educação
A professora Ana Maria nasceu na Rua Cleto Campelo, no bairro de Camalaú. Aprendeu as primeiras letras com a professora Angelita Teixeira, que até hoje reside no mesmo endereço, na Rua Municipalista Pedro da Silva Coutinho, bem em frente do Ginásio de Esportes. Após ser alfabetizada, foi estudar na escola Municipal Paulino Siqueira, tendo como professora Dona Helena Pereira Vieira, auxiliada na época por Dona Diva Fernandes, Ruth Malheiros e Marizelda Lira.
Após cursar a primeira e segunda série, foi concluir o primário na escola Pedro Américo, tendo como educadoras as Dona Amanda e Tia Beta.
A partir daí, o destino começava a confirmar sua vocação para a educação.
Tia Beta adoece, e Ana Maria assume a sala de aula aos 12 anos de idade.
Já naquela época, Tia Beta já era respeitada em toda Cabedelo como professora. Ao passar por um problema de saúde, Tia Beta precisou se afastar da sala de aula e precisava de alguém com a desenvoltura e dedicação necessárias para lhe substituir. Essa pessoa, para surpresa de muitos, foi Ana Maria, com apenas 12 anos de idade.
Foi cursar o antigo ginásio na escola Imaculada Conceição e depois no Instituto de Educação da Paraíba – IEP.
Quando ainda cursava o antigo ginasial, o Padre Alfredo Barbosa, então pároco da cidade, através de um projeto Alemão desenvolvido pela igreja católica, trouxe algumas educadoras daquele país, que deram gratuitamente um curso de preparação de professor de Jardim de Infância, oportunidade que não foi desperdiçada por Ana Maria. Aos poucos, sua vida ao magistério, discretamente, se firmava cada vez mais.
Aos 17 anos, já lecionava na escola Maria Pessoa, período que conluia pedagógico, lá permanecendo de 1972 a 1977, onde chegou até o posto de Gestora Escolar. Neste período, torna-se aluna da UFPB, no curso de História.
Cabedelo sentiu falta da professora Ana Maria nos anos de 1977 a 1987, período que ficou fora da sala de aula; só retornando em 1988, ao ser aprovada em concurso público do Governo do Estado, indo lecionar na escola São Judas Tadeu.
Sua trajetória no magistério não ficou por aí. Foi lecionar na escola Aníbal Moura e desde 1990, leciona na Escola José Guedes Cavalcanti.
Para Ana Maria, a vida profissional do professor é recheada de alegrias e tristezas que lhe segue para o resto da vida. “A alegria do professor, é ver seus alunos progredirem profissionalmente, aplicando o aprendizado da sala de aula”, explica, “porém, quão triste não fica o educador quando ver seus ex-alunos trilhando por caminhos tortuosos e, nos dias atuais, chegando a ser morto na flor da juventude devido As drogas”, disse emocionada.
Sua visão sobre a violência
De acordo com a educadora, as principais causas da violência que vemos hoje na sociedade, estão ligadas a duas bases: presença dos pais e dedicação dos professores. “Antigamente, víamos os pais mais presentes na vida escolar dos filhos. Eles iam até a escola para saber do comportamento e do aproveitamento dos filhos. Chegavam a fazer juntos a tarefa escolar de seus filhos. Agora eu lhe pergunto como jornalista esclarecido, isso é visto atualmente?”, perguntou com um sorriso triste no canto da boca.
“Outro ponto que destaco, disse Ana, é a falta de dedicação de muitos professores – sem querer generalizar, claro – mas, atualmente, os professores por não serem valorizados financeiramente, tem que  se envolver o mínimo possível com seus alunos, pois, precisam dar aulas em outros estabelecimentos e, muitas vezes, até atuar em outra profissão para garantir um salário melhor”, disse. “Os professores de hoje, até por causa da globalização, do capitalismo doentio e da exigência da própria sociedade em se correr muito, não podem mais se dedicar como se dedicavam os mestres das décadas de 1960 e 1970”, concluiu.
Sobre as metodologias atuais de ensino
Sobre os baixos salários dos professores e a qualidade de ensino, Ana Maria acredita que uma coisa não está relacionada a outra. Para ela, ainda que o professor ganhasse milhões, jamais conseguiria contribuir plenamente com a melhoria da qualidade da educação, se os pais dos alunos não participarem da vida escolar dos filhos. “Volto ao que já havia dito antes, o salário do professor fará melhorar a educação, não. Pode até fazer com que o educador se dedique mais, porém, sem o vínculo dos pais, sem que os pais se envolvam com a vida escolar dos filhos, dificilmente alcançaremos uma sociedade com um padrão de educação que almejamos”, desabafou.
“A violência está aí com índices negativos alarmantes e as autoridades estão perdidas sem saberem como resolver o problema e não vão, sabe por que? Por que o problema está na família. As crianças e conseqüentemente os alunos, estão carentes de um abraço dos pais, de uma palavra de ‘eu te amo filho’, de um gesto de estímulo e afeto e isso reflete dentro da escola e no rendimento dos alunos”, falou a professora.
Sobre o Programa Bolsa Família
Procuramos saber da educadora, sua visão sobre o Programa Bolsa Família do Governo Federal. Sua resposta foi sucinta, mas com visível preocupação. “O Programa em si é muito bom, mas, não vem sendo bem feito. Não está sendo aplicado conforme com a ideologia que foi criado, precisa ser revisto e corrigido para aí sim, alcançar seu verdadeiro objetivo”.
Para Ana Maria, se pudesse voltar no tempo, escolheria novamente a profissão de educadora. “Ensinar é gratificante. È dar a luz do saber para quem está perdido nas trevas da ignorância”.
“Fico feliz em ver minhas três filhas atuando no magistério, é o maior legado que posso deixar para elas”, comentou a educadora que concluiu a entrevista deixando um recado aos pais, para que estes  se dediquem mais aos filhos ensinando-os o caminho de Deus.
Atualmente, Ana Maria está se recuperando de vários problemas de saúde, sentindo falta da visita e do diálogo dos amigos. A ela, o reconhecimento de toda a equipe do Soltando O Verbo por sua rica e grandiosa contribuição na educação do município de Cabedelo.
Da Redação/Wellington Costa