O pastor e suas ovelhas

Pastores
e ovelhas eram uma parte tão familiar do mundo antigo que se tornaram
uma pronta metáfora para os escritores bíblicos. O terno cuidado dos
pastores com suas ovelhas levaram Davi e seus companheiros salmistas a
falar do Senhor como o pastor de Israel (Salmos 23; 80:1), e de Israel
como “as ovelhas do teu pasto” (Salmos 100:3; 95:7; 79:13; 78:52).
Os
profetas também, em suas visões messiânicas, viram Deus de modo
semelhante: “Como um pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus
braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio; as que amamentam,
ele guiará mansamente.” (Isaias 40:11); “Eu mesmo apascentarei as
minhas ovelhas, e as farei repousar, diz o Senhor Deus. A perdida
buscarei, a desgarrada tornarei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma
fortalecerei...” (Ezequiel 34:15-16).
Escritores
do Velho Testamento também fizeram uso efetivo da bem conhecida
disposição das ovelhas para se desgarrarem. De nossos caminhos
pecaminosos Isaías escreveu: “Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas” (Isaías 53:6) e o mais longo dos salmos termina com este
queixoso apelo: “Ando errante como ovelha desgarrada; procura o teu
servo, pois não me esqueço dos teus mandamentos” (Salmo 119:176).
Em
sua ilustração do pastor e das ovelhas (Lucas 15:3-7; Mateus 18:12-14),
Jesus estava não somente abordando seus ouvintes pela prática
conhecida, mas com uma metáfora bíblica conhecida. Não havia meio deles
perderem a lição. Jesus, como o fez seu Pai, via os homens como“aflitos e
exaustos, como ovelhas sem pastor” (Mateus 9:35).
As
ovelhas comumente se perdem devido a sua própria despreocupação.
Esquecendo tanto o rebanho como o pastor elas perambulam sem destino,
tendo na mente nada mais do que a próxima moita de capim. Não há
pensamento em lobos ou profundos precipícios. Como isto espelha
acuradamente nossos modos ineptos! Não é que um dia tenhamos a idéia de
ser ímpios e então comecemos metodicamente a cumprir nossa ambição.
Estamos meramente tão preocupados com os desejos e circunstâncias
presentes que nos tornamos distraídos das conseqüências de nossas
escolhas. Vidas vividas sem propósito tornam-nos peões de nossas paixões
e, seja de propósito ou não, encontramo-nos antes que o saibamos, longe
de Deus, miseráveis em nosso desamparo e feridos. Tais ovelhas não
representam os orgulhosos e os teimosos, mas os infelizes, aqueles que
são rápidos em admitir sua própria estupidez e pecado mas, não obstante,
são assim mesmo perdidos.
Mas
o foco da parábola está no pastor. Argumentando do menor para o maior,
Jesus toma a atitude conhecida de um pastor para com uma ovelha perdida,
para justificar sua atitude para com as pessoas perdidas, e para expor o
espírito sem misericórdia de seus críticos. Ele tinha antes usado o
mesmo tipo de argumento, da atitude de um médico para com o doente
(Mateus 9:12). Os fariseus sabiam que nenhum pastor verdadeiro jamais
abandonaria uma ovelha perdida ainda que o resto do seu rebanho
estivesse seguro. Com pastores a preocupação não era meramente
econômica, mas sentimental. Eles ficariam freqüentemente ligados às
ovelhas até o ponto de chamar cada uma delas por seu próprio nome
especial (2 Samuel 12:3; João 10:3).
Os
fariseus também sabiam que o pastor, quando achasse sua ovelha, não a
esmurraria com raiva, mas carregaria a desgarrada, agora severamente
enfraquecida, gentilmente em seus ombros. Mais ainda, quando ele
retornasse, ele voltaria em franca alegria.
Com
esta simples ilustração Jesus levantou uma questão implícita com seus
detratores: como poderiam eles ter tal compaixão por uma ovelha e tratar
os homens com tal arrogante e egoísta dureza. Eles não somente não
tinham buscado o pecador perdido, mas não se regozijariam com sua
recuperação. E com isto eles tinham mostrado dramaticamente como sua
própria disposição diferia da divina. Enquanto Deus se regozija, eles
amuam. Enquanto o céu perdoa, eles cospem seu desprezo. Enquanto o bom
Pastor busca recuperar o rebanho espalhado, eles vivem para devastá-lo. É
um quadro sombrio.
Mas
alguns podem ficar envergonhados pela observação conclusiva de Jesus
que “haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que
por noventa e nove justos (retos) que não necessitam de arrependimento”
(Lucas 15:7). Ele está sugerindo que Deus sente uma alegria menor pelos
justos do que pelo pecador recuperado? As duas coisas. A alegria de
recuperar o perdido é um tipo especial de alegria, uma alegria cheia de
alívio, mas isso nunca exclui como profundo, um deleite naquilo que
nunca foi perdido. E, o termo justo ou reto que Jesus usa aqui tem um
toque irônico em si. Quem, no mundo, seria tão justo que não precisasse
de arrependimento? Infelizmente, os fariseus pensavam que poderiam nos
dizer. A verdade é que todas as ovelhas desgarraram (Romanos 3:9, 10) e
precisam da misericórdia daquele “grande Pastor das ovelhas” que nos
redime “pelo sangue da eterna aliança” (Hebreus 13:20). Este grande
Pastor“apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os
cordeirinhos e os levará no seu seio; as que amamentam, ele guiará
mansamente” (Isaías 40:11).
Fonte: Paul Earnhart em Estudos da Bíblia
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